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domingo, janeiro 22, 2017

Por tanto tempo

XXIX

Por tanto tempo, desvairado e aflito,
Fitei naquela noite o firmamento,
Que inda hoje mesmo, quando acaso o fito,
Tudo aquilo me vem ao pensamento.
Sal, no peito o derradeiro grito
Calcando a custo, sem chorar, violento...
E o céu fulgia plácido e infinito,
E havia um choro no rumor do vento...
Piedoso céu, que a minha dor sentiste!
A áurea esfera da lua o ocaso entrava.
Rompendo as leves nuvens transparentes;
E sobre mim, silenciosa e triste,
A via-láctea se desenrolava
Como um jorro de lágrimas ardentes

Olavo Bilac

domingo, dezembro 18, 2016

Galeria de lembranças

Olha, eu vou te explicar o que acontece comigo quando abro minha galeria de fotos do computador.

[Aqui o ponto central é você. Sempre é. São as suas fotos, mas são as nossas histórias, nossos momentos, nossos sorrisos, nossos beijos, nossos encontros... Mesmo quando é só você ou somente eu nas fotos, somos nós dois, cada um em seu canto, mas com o pensamento no outro. Sempre foi assim.
Ainda que na época do registro não nos conhecêssemos, estava escrito, e mesmo que eu não soubesse, eu já sentia. E mesmo que eu não sentisse, eu já esperava.]

Primeiro o estomago fica bem embrulhado, e daí parece que toda hora sobe algo até a garganta e volta. Eu fico na dúvida se quero vomitar, gritar ou chorar.

Segue.

Os braços já estão bem dormentes nesse momento, da mesma forma que o coração ta batendo muito forte como se eu tivesse subido uns 4 andares, de escada, correndo (se você faz isso bem, parabéns. Eu não).

Às vezes minhas mãos suam muito, outras vezes ficam extremamente secas. Sempre em extremos. Mas é o de menos, já que estou tremendo bastante. Lembrando que os braços estão dormentes.

O estomago dói cada vez mais e a fadiga e a vontade de chorar aumentam.

As pernas balançam sem parar, como se eu estivesse ansiosa por algo. Ansiosa pelo quê? Já vi essas fotos dezenas de vezes... De alguma forma parece novo. As fotos ou os sentimentos.

Eu abro o navegador e pesquiso coisas aleatórias pra disfarçar (ou então pra não morrer de agonia e aflição). Minimizo e a pasta de lembranças está lá, me observando. Rindo de mim, me beijando, me abraçando, dormindo nos meus braços, fazendo careta...

O teto do quarto parece uma tela de cinema agora. Olho pra cima e fico assistindo flashback daqueles iguais os de filme, com risadas, leveza e a incapacidade de imaginar que estaria aqui e agora olhando as suas fotos (nossas fotos), segurando a dor e a vontade desesperada de te pegar nos braços e não soltar nunca mais.


Já me disseram que pode não ser saudável ficar olhando nossas fotos, mas você já teve medo de estar perdendo ou esquecendo cada detalhe de alguém por culpa da distância? Talvez isso te mantenha vivo e nítido dentro de mim. Ou então, quem sabe, esse sentimento doloroso, mas forte, é o que me transporta pra bem perto de você (já que você decidiu desaparecer dos meus sonhos faz tempo)?
Não sei exatamente o porquê de eu insistir nesse ritual, nessa mania que me quebra e me destrói inteira, mas cá estou com as pernas balançando, braços dormentes, estômago embrulhado, nó na garganta e uma vontade imensurável de você.

sexta-feira, agosto 05, 2016

O filho perdido

Quando eu escrevo algo sinto que tô mexendo na parte mais frágil de mim. Eu não penso muito, talvez por isso escrevo pouco. Sinto grande necessidade então escrevo. De dentro de mim vou retirando palavras dotadas de peso e sentimentos, vão se formando frases até que tenho um texto com meu dna. E se depois de feito o texto some, não me resta nada a não ser aceitar. A dor do texto perdido, tô sentindo agora. É como se você abrisse seu coração a um amigo e o retorno fosse uma carinha “:/” ou um “puxa… que triste…”
Eu não tenho em mim gravada nenhuma das palavras escritas. A partir do momento que saíram de mim, se não houver cópia imediata, eu não reconheço mais. Não sou capaz de repetir.
Até parece que com as palavras foram embora também os sentimentos. Quem sabe não é essa a terapia que eu tanto precisava? Escrever e destruir. Libertar.  Pfff. Desapego demais pra quem não aprendeu ainda a perder as coisas.
Ainda sei o que senti, só não sei reproduzir.
Deixa pra próxima, uma hora a dor e choro voltam.

quinta-feira, agosto 04, 2016

Beira do abismo

Me acostumei a mudar na segunda-feira.
Segunda era o dia, enfim, de mudar os hábitos, os pensamentos, e tudo que viesse a me incomodar.
Mas hoje é Quinta, e justamente hoje eu não aguento mais.
Se ao menos fosse Domingo...
Hoje eu quero desistir, hoje eu quero parar, hoje eu decretei o dia fatídico em que se eu não mudar, eu nem imagino o que restará de mim na Segunda. Eu resolvi relatar, pontuar, formalizar, textualizar e eternizar o momento em que eu fiquei saturada de mim e das minhas dores. Eu me sinto pequena demais pra tudo que tenho carregado. A minha dor não é maior que a sua, mas ela é minha.

O meu peso não suporta mais o peso da minha dor. A minha mente, não suporta mais o meu corpo, e vice-versa. To andando num caminho escuro, eu nem sei mais onde eu tô pisando.

Eu sinto a insanidade chegando lentamente, tomando lugar, arrumando as roupas no armário, deitando na minha cama, puxando, cada vez mais, um pouco mais, com mais força, todo o meu ser pra um lugar sem sinal, sem luz, sem saída, sem socorro, e pouco a pouco sem mim.
Preciso me encontrar. Preciso me esvaziar de todo esse peso. Eu ainda não sei como, tô procurando ajuda, tô procurando saída. Mas se tem um dia pra eu começar a mudar,
que seja hoje... Antes que eu me perca de mim e de vez.

sábado, junho 18, 2016

E o que restou de mim senão Saudades suas?

Com medo de ferir seu espírito e te afastar de mim, eu sequei meu rosto, sorri e disse: já já vai ficar tudo bem, eu te prometo, meu amor! (Me disseram que eu precisava encontrar paz, pra te deixar em paz.)

Agora eu acredito em vida após a morte, reencontro, missão. Talvez seja apenas o desejo de te ter por perto, não sei bem. Pois veja, que cruel é pensar que um corpo cheio de vida, com calor, fala, movimentos, ideias, projetos,… de repente é um saco pesado de nada. Um amontoado de carne, que vai putrificar com o tempo até deixar de existir. E você? E aquele que tanto amei, troquei ideias sobre os “porquês” da vida? Pra dar um sentido a tudo isso resolvi acreditar. Afinal, cê foi ou não foi um anjo em vida? Maravilhoso demais pra não ter motivos a sua existência.

Mais uma escorre pelo rosto, insistente essa. Imagino você me olhando de algum lugar que ainda não consigo definir se é perto ou longe, cima ou baixo.

“Flor, não chora. Eu continuo aqui!”

A vida agora é essa, imaginar as suas falas pra reconfortar o coração assustado, com medo e dor.

Se você tá aqui, aparece pra mim!! Eu juro, meu medo do ‘sobrenatural’ não existe mais. Tenho agora um desejo forte de que os espíritos existam, e possam nos visitar. (No próximo aniversário já sei meu desejo ao soprar as velinhas!!)

Dizem por aí que algumas pessoas têm mais ou menos sensibilidade pra ver, sentir e falar com pessoas do além. Não vou brincar com o copo nem compasso, mesmo se funcionasse você iria ficar quieto rindo da minha cara, só! Talvez eu deixe a porta aberta (figurativa), faça uma oração pra Deus e um papo aberto contigo te liberando pra aparecer qualquer dia aí pra mim, pra nós olharmos, ou qualquer coisa assim.

Um mês da sua ausência física.
Só o tempo, disseram…
Dias, semanas, um mês.
A dor aumenta, com saudade, sem remédio, sem dó. O tempo passa, com pressa, sem espera, sem dó.

E não há nada que possamos fazer…

sexta-feira, junho 17, 2016

Me chama - Barão Vermelho

"Chove lá fora e aqui
Tá tanto frio,
Me dá vontade de saber
Aonde está você,
Me telefona,
Me chama, me chama, me chama!

Nem sempre se vê
Lágrima no escuro
Lágrima no escuro
Lágrima.

Tá tudo cinza sem você,
Tá tão vazio e a noite fica sem por quê.

Aonde está você,
Me telefona,
Me chama, me chama, me chama!
Nem sempre se vê
Mágica do absurdo
Mágica do absurdo
Mágica cadê você

Nem sempre se vê
Lágrima no escuro
Lágrima no escuro
Lágrima

Aonde está você,
Me telefona!
Me chama, me chama, me chama!

Cadê você..."

Memórias do que não fizemos

O cartão que comprei pra ti mas “vou entregar numa data importante”, continua na minha gaveta.
O lugar que você queria ir mas “um dia vamos lá”, não terá mais nossa presença.
O filme que você queria que eu assistisse contigo mas “hoje não, outro dia”, não vai ter seus comentários no final.
As viagens que planejamos mas “vamos esperar as condições melhorarem”, não saíram do papel.

Os bares que não fomos, os amigos que não visitamos, os lugares que não conhecemos, as fotos que não tiramos, as músicas que não ouvimos, os desejos que não realizamos,…

Apesar de todo amor, intenso e bem vivido, o que deixamos de fazer insiste em visitar meus pensamentos no menor dos descuidos… Os planos, desejos e projetos ficaram pendurados no cabide da saudade. As pendências pouco (ou nada) interferem no que vivemos, mas o vazio de Você me traz à tona todos os outros pequeníssimos vazios que fomos deixando ao longo do tempo.

“Depois”, “amanhã”, “um dia”. Até que não haja mais tempo…